Montar a aposentadoria não é só para ricos”: um guia para começar sua reserva
Planejar aposentadoria é coisa de rico? É para quem tem salário sobrando no fim do mês? Quantas vezes você já pensou nisso e deixou para lá os planos de investir para o futuro?
O problema é que o futuro continua lá, a sua espera. E, a não ser que ganhe na loteria, se você não agir agora, a conta não vai fechar. É uma questão de matemática.
“Um dia você não vai mais ter renda. Não vai mais ter força para trabalhar e ainda terá gastos”, diz Wiany Moreira, diretora de estratégia do escritório de investimentos Prosperidade.
Nas últimas décadas, a expectativa de vida aumentou significativamente em todo o mundo. Nos anos 1960, a previsão era viver até os 52,5 anos de idade. Hoje, é de 72, na média mundial. O problema é que, mesmo vivendo mais, nós só pensamos no aqui e agora.
A essa altura, você já pode estar considerando que realmente pode valer a pena começar a planejar sua aposentadoria. Mas talvez não faça ideia de onde tirar dinheiro, ainda mais se todo mês ele anda faltando.
A questão, novamente, é matemática: ou você aumenta sua renda – o que é difícil – ou começa a gastar menos.
Gastar menos não é viver com uma qualidade de vida pior. É fazer escolhas racionais. Por exemplo: seu carro.
Ele precisa ser um automóvel bom, confortável e eficiente. Mas não precisa ser de luxo. Um carro mais barato representa muito menos gastos com impostos, manutenção, seguro.
E isso vale para tudo. Principalmente para os dois maiores ralos de dinheiro por onde a renda da classe média tradicionalmente escapa: comida e bebida.
Pedir “delivery” ou comer em restaurantes todo dia é cômodo. Mas você vai, no mínimo, gastar o dobro do que gastaria se cozinhasse em casa. O mesmo vale para as bebidas.
Com essas pequenas economias, você já vai poder economizar – nem que sejam R$ 100 – todo mês.
Mas isso serve para planejar a aposentadoria? Sim, diz Andressa Siqueira, da Magnetis Investimentos. “Tudo depende de como você quer viver depois de se aposentar. Mas para começar, qualquer valor funciona”, diz a especialista em investimentos.
O importante é ter constância. Fazer os depósitos todo mês. Mas em qual investimento?
“Antigamente, tinha só a caderneta de poupança, e era simples depositar todo mês. Hoje, são mais de 1.400 fundos de investimentos diferentes. É natural a pessoa ficar perdida e não saber o que fazer com seu dinheiro”, diz Wiany.
Então, se você não é dessas pessoas que querem mergulhar no mundo dos investimentos, há uma solução simples: os planos de previdência privada.
Basicamente, você vai fazer uma poupança e vai pagar para o banco investir esse dinheiro. E parte desses rendimentos, claro, vai ficar com a instituição – como pagamento pela comodidade. Isso, porém, não inviabiliza a escolha.
Existem dois tipos de previdência. Os mais básicos e simples para quem está iniciando são os planos de previdência privada VGBL, indicados para quem não paga ou restitui imposto de renda. A outra modalidade, os PGBLs são mais indicados para quem quer desconto na hora de pagar o Imposto de Renda Pessoa Física anual.
Vale a pena?
Previdência privada foi um tabu por muito tempo. Isso porque, até 2015, a forma como esse produto era comercializado, além de ser pouco atrativa, gerou muitos preconceitos. Os bancos cobravam taxas abusivas de administração e de carregamento (quando você recebe o benefício).
Mas a partir de 2015, as gestoras independentes criaram seus próprios fundos, com maior retorno e menos custos, e muitos concorrentes pararam de cobrar taxas. Algumas mudanças de legislação também tornaram estes fundos mais atrativos.
Então, os planos VGBL podem render semelhantemente ao que investimentos em renda fixa. “Ou até renda variável. Hoje existem fundos com essa opção”, diz Andressa, da Magnetis.
E o governo, segundo ela, incentiva a adesão a esses planos, com descontos bem menores de Imposto de Renda na hora de usufruir dos benefícios. “Nos VGBL, o desconto é de 10% dos rendimentos e pode chegar a até zero, dependendo da renda que você escolher receber no resgate.”
Os fundos funcionam como uma tradicional caderneta de poupança, mas de uma maneira bem mais moderna. O titular pode programar um depósito automático todo mês. E basta um CPF para abrir uma conta de previdência. “Tem muitos pais que abrem uma previdência para seus filhos logo quando eles ainda são bebês”, conta a especialista.
Mas claro, segundo Andressa, há outras opções. “A previdência privada é a solução mais simples e cômoda. Mas a pessoa pode também fazer uma carteira de investimentos: renda fixa, ações. O importante é diversificar.”
“Investir sozinho é possível e não é necessário entender de mercado ou de ‘day trade’”, afirma Wiany. O segredo, segundo ela, é apostar em três modalidades diferentes de investimentos: um que proteja contra a inflação, um dolarizado e outro em renda variável.
A primeira opção são os fundos ligados ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) – ou seja, que rendem pelo menos o mesmo que a inflação oficial do País.
Existe o Tesouro IPCA, um título público emitido pelo governo. Ao aplicar nesse ativo, você estará emprestando dinheiro ao poder público. Em troca, ele paga uma taxa de juros que é uma combinação da inflação (IPCA) e de uma taxa prefixada.
Tem também a mesma modalidade, mas privada, os CDB’s (Certificados de Depósito Bancário), que também pagam a variação da inflação, mais algum rendimento.
Ter uma parte de sua poupança variando conforme o dólar também é recomendável, segundo Wiany, pois a moeda americana oferece uma boa proteção a longo prazo.
Não é necessário comprar dinheiro em espécie. Mais uma vez, os bancos têm fundos de investimentos que acompanham essa variação.
A terceira opção são as ações. Elas são recomendadas porque podem render bastante. Há papéis, por exemplo, que de março do ano passado até agora já subiram mais de 100% (Locaweb , XP Investimentos, Magazine Luiza e Via Varejo, por exemplo).
Claro, ações também caem. Mas você não vai perder todo seu suado dinheirinho, a não ser que aposte numa única empresa que vá a falência – o que é difícil de acontecer.
Aqui, também, não é necessário ficar escolhendo empresa, lendo balanços para saber em qual papel investir. Há fundos que acompanham o rendimento de determinadas ações, assim como os que acompanham o IPCA e o dólar.
Essa é uma pergunta que depende mais de você. É por isso que os consultores de investimentos gostam de classificar seus clientes entre conservadores, médios e arrojados.
Os mais conservadores, apostam mais no que é seguro: os fundos que acompanham a inflação. Na outra ponta, os mais arrojados colocam mais dinheiro em ações e no dólar.
São uma opção muito tradicional no Brasil. Quem nunca pensou em viver de aluguel na velhice? Parece simples e fácil. Mas se você for amigo dessa ideia, Andressa, da Magnetis, lembra que não tudo maravilhoso.
“E se o imóvel ficar vacante? Aí a pessoa fica sem renda e com gastos de impostos e condomínio. E também há os gastos com manutenção, reformas. Se for preciso vender, isso demora muito porque é um investimento com pouca liquidez.”
fonte: (“Montar a aposentadoria não é só para ricos”: um guia para começar sua reserva | CNN Brasil)